sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Crise: o pior pode estar passando



O pior momento da atual crise econômica mundial, que começou com o ajuste das condições irreais de mercado do setor imobiliário americano, já pode estar passando. A opinião é do economista sênior do Unibanco Asset Management – UAM, Juliano Cecílio, em palestra para os associados da Apimec-MG - Associação dos Analistas e Profissionais do Mercado de Capitais, justificando a percepção pelo fato de que o tempo de venda dos imóveis está menor e que os estoques baixaram, apesar de ainda não estarem num patamar normal.
Ele disse também que, apesar disso, os efeitos da crise mundial continuam sendo sentidos pois as grandes corporações mundiais tem registrado prejuízos e demitido pessoas, levando à necessidade dos governos centrais socorrerem os bancos. “Em 2009, o estrago já está feito, registrando-se recessão na grande maioria das economias mundiais. Mas, para 2010, espera-se certa melhora, com resultados mais positivos que este ano, devendo a recuperação se dar em torno de três anos, mesmo tempo verificado nas crises mundiais anteriores”, afirmou.
Cecílio disse que países emergentes como a China e o Brasil, este em razão dos bons fundamentos da sua economia, apresentarão crescimento ainda que em níveis inferiores ao passado, mas a previsão é voltarão a crescer ano que vem em taxas em torno de 8% e 2% respectivamente, num dos cenários projetados No caso das commodities, que afetam mais diretamente o Brasil, em 2009 há expectativa de queda de 20% nos preços, devendo o nosso superávit comercial atingir a marca de US$ 6 bilhões, com o déficit da conta corrente chegando a US$ 30 bi bilhões.
Segundo o economista do Unibanco, a remessa de lucros vai ser menor em 2009 e deve chegar em US$ 22 bi e o Banco Central brasileiro deve continuar vendendo a moeda americana para segurar a cotação, mas ajudando os exportadores e procurando minimizar impactos negativos nas contas externas caso o dólar fique próximo a R$2,00. Ele acha que o cenário mais provável é que essa moeda fique na faixa de R$2,20/R$2,45 até final deste ano. Com a projeção da queda do PIB para perto de 1%, o que, tecnicamente, caracteriza uma recessão, estará aberto espaço para que o Copom faça novas reduções na taxa Selic em suas três próximas reuniões, chegando ao patamar de 9,75% no final de 2009, sem comprometer o controle da inflação que, em 2010, deve se situar em 4,5%.
Para Juliano Cecílio, a massa salarial e gastos fiscais continuarão impulsionando atividade econômica, mas os fatores de sustentação da demanda perdem fôlego, com o emprego e crédito contribuindo menos para o crescimento da economia, apesar do reajuste real do salário-mínimo ser o dobro da média do período 2007-2008. Afirmou, ainda, que a queda rápida da inflação a partir do segundo trimestre de 2009 sustentará crescimento da renda real. Mas, no curto prazo, a indústria manterá níveis de produção deprimidos em relação a 2008, abrindo-se um hiato maior que o esperado inicialmente, prevendo-se uma forte e disseminada queda da produção industrial.




Incertezas no horizonte

A segunda parte da palestra do UAM - Unibanco Asset Management na Apimec- MG o gestor de renda variável daquela instituição, Basílio Ramalho, considerou como frágil o cenário em que se baseiam as análises sobre o futuro da economia, em razão das muitas incertezas ainda persistem, apesar de recente melhora do quadro. Disse que o processo de recuperação do índice Bovespa ocorrido nos últimos 90 dias, foi rápido demais com relação aos fundamentos econômicos e que isso não deve se sustentar, apesar de o spread para crédito ter sido reduzido e Brasil ter se recuperado melhor que outros países da América Latina.
Para ele, os investidores em mercados emergentes estão ainda cautelosos. Nos EUA estão sendo mantidas posições relevantes de caixa, aceitando-se baixa rentabilidade em troca de maior segurança. Por aqui, em vista dos fundamentos da nossa economia, o quadro no mercado de renda variável pode ser revertido em vista do potencial de valorização dos principais papéis, com chance do Ibovespa chegar a 42/45 mil pontos até meados de 2009.
A expectativa é de melhora no segundo semestre, mas ainda com queda dos lucros das empresas, sendo que o que comandará mercado serão os resultados das medidas tomadas pelos governos das principais economias mundiais. No caso das empresas de commodities, Basílio Ramalho citou a preferência pela Vale, em razão das perspectivas de retomada do crescimento da China e dos estoques de minério naquele país terem diminuído rapidamente no final de 2008, apesar da queda do preço.
Com relação à Petrobrás, a posição da UAM é de cautela, pois a demanda do petróleo está sendo reduzida e a empresa fará investimentos elevados nos próximos anos. Apesar dela sustentar que as reservas do pré-sal são viáveis com o barril a US$40, teme-se que ingerências políticas piorem sua situação, mesmo considerando o crescimento da economia e o aumento do preço do petróleo para US$60.
De acordo com o gestor do UAM, há baixo risco de aumento da inflação no mundo, a não ser que os bancos centrais injetem dinheiro em demasia nas economias em recuperação. No Brasil, a redução da Selic e dos compulsórios dos bancos melhora cenário interno, devendo a normalização total do crédito ocorrer até o final de 2010. Ele afirmou que o potencial de valorização das ações é pequeno e que há risco de recebimento de créditos pelo setor exportador, principalmente por parte da Rússia. A previsão é que a recessão dure mais três ou quatro trimestres.
O seguinte comportamento setorial está sendo considerado pelo Unibanco Asset Management para o primeiro trimestre de 2009: Siderúrgicas (-), Bancos (neutro/-), Consumo/saúde (-/neutro), Energia Elétrica (+), Mineração (-/neutro), Papel/celulose
(-), Construção Civil (-), Petróleo e Petroquímica (-), Telefonia fixa (+), Telefonia Celular (neutro), Bens de Capital/Autopeças (-), Aviação (-), Logística (-), Concessões (+).

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